quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Meu Coxa

corisco

Aos Arrudas de Plantão!

corisco desmontado

Os (verdadeiros) filhos do Brasil ROBERTO DaMATTA

Leio que vão fazer um filme sobre o “Roberto”. Pô — imagina o meu lado narciso, apoiado por sua dimensão cretina (que faz todo mundo dizer e fazer merda) — finalmente minha vida como herói das salas de aula e dos livros escritos pelas madrugadas; das viagens pelos sertões e pesquisas nas aldeias indígenas; como interprete do Brasil pelo carnaval, pela malandragem e pelo futebol, será reconhecida! Fantasia, é claro! Quem você penso que é, diz, trazendo-me ao chão, você, leitor dessas bem traçadas? A cinebiografia programada será de um “Roberto”, sem dúvida, mas do Carlos. Este, sim, merecedor de ter sua vida ampliada em tela gigante a ser vista com música de fundo e no escuro que conduz à concentração e ao choro escondido e arrebatado. O que esse surto narcisista do cronista tem a ver com o assunto do momento (do momento? tá brincando...): o caso concreto e filmado de, entretanto, uma “alegada”, “suspeita”, “suposta”, “hipotética” e “mentirosa” “corrupção”, cometida por José Roberto Arruda, governador de Brasília e seus comparsas? Pois até agora, como remarcou o presidente Lula, que, para beneficio do bom senso, mudou de ideia, só temos imagens e elas não dizem muito mais — sobretudo depois de enlouquecer de tanto vê-las — do que um milhão de palavras! O que tem esse caso pseudopolicial de corrupção com minha fantasia narcisista de ser cinebiografado tendo, quem sabe, Sean Connery — p.q.p! — fazendo o meu papel? Tem tudo, caros leitores! A raiz disso que chamamos de “corrupção” ou “roubalheira” faz parte da dinâmica dessa sociedade de viés aristocrático, escravocrata e capitalista que, reduzindo a política a uma formalidade e situando tudo no estado, adotou o sistema republicano. Nela, há mais dificuldade em ter cidadãos iguais perante a lei do produzir em série que chamei — faz 30 anos, no livro, “Carnavais, malandros e heróis” — “superpessoas”. Essas figuras que resultam da combinação do viés hierárquico e carismático (que marcam a nobreza) com a burocracia estatal de corte igualitário, desenhada para dela diferenciar-se e proteger-se e que acaba por ser sócia do sistema e por isso inventa o “sabe com quem está falando?” em todas as situações em que se vê ameaçada pela igualdade que recusa seguir. A superpessoa ou o sujeito com biografia, situado acima das leis, é rotineiramente fabricado neste sistema governado por leis universais e igualitárias mas que, na prática ou na “realidade”, são aplicadas com toneladas de sal (para parafrasear Weber) e pimenta (digo eu) somente para os subordinados. Nesse Brasil, a discussão política passa por tudo, menos pelo poder dos governantes que passam a ser os donos (como acentuou Faoro) de um sistema centralizado cujo caráter é, paradoxalmente, universal, mas que opera de modo particularista, perguntando menos sobre o que e como foi feito, e muito mais pelo quem fez. Quando se chega nesse nível, você vira filho do Brasil! Uma vez por dentro do estado (que governa tudo) e transformados em “superpessoas”, os administradores públicos deixam de ser guardas das leis e dos constrangimentos morais impostos pelos cargos, e viram seus senhores ou “políticos”. Fazem como seus sócios das empresas privadas que contratam, com a diferença que essas empresas têm dono, enquanto os nossos corruptos deveriam ser escudeiros dos cargos que ocupam temporariamente. Se aqueles burlam o mercado e a competição, estes saqueiam o povo em nome do qual foram eleitos. O resultado é que a lei só vale para baixo e para o lado, sobretudo para quem está do “outro lado”. Os mensalões provam que a questão não está na “direita”, como pensávamos antigamente; mas no “centro” e também na “esquerda” lacerdista, como o governo Lula teve a honra de demonstrar. Mais: ocorre em todos os níveis politico-administrativos. No federal (caso do PT), estadual (caso do PSDB) e municipal (caso dos DEM). Isso prova como a ideologia se esvai diante desse estilo de governo que transforma o eleito em nome do povo num rei. Numa superpessoa. Uma entidade que, como dizia Darcy Ribeiro: não nasceu, foi fundado (caso dele, aliás...). E, assim, biografado, bajulado e cinebiografado; atinge um “Nirvana social” — essa forma brasileira de onipotência. Entra na aristocracia dos que podem confundir igualdade e hierarquia e usar as instituições que administram — salvo as exceções que confirmam a regra sem nenhuma noção de limite, culpa ou vergonha. Os verdadeiros filhos do Brasil, leitores, são a elite, não o povo. Esse sempre foi o filho da puta do país! Aliás, a ética do sistema escancara: “aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei!”, o que a um só tempo demonstra a nossa aversão a igualdade que deveria estar no centro de um sistema liberal até hoje claudicante, e a subordinação de um valor às redes de relações pessoais, responsáveis por essa rotineira cadeia de saques dos dinheiros públicos. Os filmes dos pilantras eleitos e dos seus asseclas, dando e recebendo dinheiro vivo, sendo envergonhadamente escondido (afinal até bandidos têm noção do imoral) na meia e na cueca (se pudessem enfiavam o dinheiro no próprio corpo), nesses mensalões, serve ao menos para revelar essa dolorosa e triste verdade! (Continua, se não houver coisa mais deprimente, na próxima semana).

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A sucessão presidencial e o futuro do Brasil

ROBERTO MANGABEIRA UNGER

Nenhum desses 5 conjuntos de iniciativas se acomoda dentro do que predomina hoje no pensamento dos principais pré-candidatos
O FUTURO , não o passado, é o tema de uma grande eleição, como será a de 2010. O assunto central há de ser como superar a contradição central do Brasil: uma vitalidade imensa ainda coexiste, para a maioria dos brasileiros, com a falta de instrumentos e de capacitações.
Hoje essa vitalidade está encarnada, sobretudo, em classe média surpreendente, que inaugura cultura de autoajuda e de iniciativa. Já está no comando do imaginário popular. A revolução brasileira de agora é consumar as inovações institucionais que permitam à maioria seguir o caminho dessa vanguarda de batalhadores e de emergentes.
O governo Lula promoveu grandes avanços. São eles a base indispensável para o que deve vir em seguida. Consolidou a estabilidade econômica, barrando o regresso à hiperinflação.
Livrou milhões da pobreza extrema.
Abriu, para outros milhões, as portas da universidade e da escola técnica.
Iniciou obras indispensáveis ao desenvolvimento do país.
Tudo isso somado, entretanto, não resolve a contradição entre o dinamismo do povo brasileiro e a negação à maioria dos instrumentos para criar e empreender. O próximo passo é a construção de modelo de desenvolvimento baseado na democratização de oportunidades econômicas e educativas. O povo brasileiro não quer caridade, quer oportunidade. Quer ver os interesses do trabalho e da produção ganharem primazia sobre os interesses do rentismo financeiro.
Cinco conjuntos de iniciativas traduzem essa aspiração libertadora em transformação prática. Nenhum deles se acomoda dentro do que hoje predomina no pensamento e no discurso dos principais pré-candidatos à Presidência: o desenvolvimentismo da década de 70.
O primeiro projeto é democratizar a economia de mercado. Não basta regular o mercado. Não basta contrabalançar suas desigualdades com programas sociais. É preciso reconstruí-lo em seu conteúdo institucional para torná-lo mais includente.
Parte dessa obra é a consolidação de uma política industrial que facilite para as pequenas e médias empresas -o setor mais importante de nossa economia- o acesso ao crédito, à tecnologia, ao conhecimento, aos mercados globais e às práticas de inovação permanente.
Parte é a superação do contraste entre agricultura empresarial e agricultura familiar. Esta tem de ganhar as características daquela.
E parte é a definição de regras que protejam, organizem e representem os trabalhadores precarizados que hoje formam a maioria do povo brasileiro: precarizados ou porque continuam na economia informal ou porque, na economia formal, atuam em trabalho temporário, terceirizado, doméstico ou autônomo.
O segundo projeto é dotar nossa afirmação nacional de escudo econômico. Cortar a falsa ortodoxia econômica ao meio. Reafirmar a parte sadia: realismo fiscal e responsabilidade fiscal. Mas repudiar a parte nociva: a aceitação de baixo nível de poupança nacional, privada e pública, e o apelo à poupança estrangeira como base de nosso desenvolvimento. Mobilizar a poupança de longo prazo para o investimento produtivo de longo prazo e não permitir que seu potencial se desperdice em cassino financeiro.
O terceiro projeto é capacitar o povo brasileiro por meio do ensino público. Uma prioridade é construir as regras e os meios para reconciliar a gestão local das escolas pelos Estados e municípios com padrões nacionais de investimento e de qualidade. A qualidade da educação que uma criança recebe não deve depender do acaso do lugar onde ela nasce.
Outra prioridade é substituir, na maneira de ensinar e de aprender, decoreba -o enciclopedismo informativo superficial- por ensino analítico e capacitador, com foco no básico, análise verbal e numérica.
O quarto projeto é construir Estado capaz de fazer tudo isso. A agenda do profissional administrativo. A agenda da eficiência na gestão pública. A agenda do experimentalismo na maneira de prestação e na qualificação dos serviços públicos, inclusive de educação e saúde, por meio do engajamento da sociedade civil na provisão competitiva e experimental deles.
O quinto projeto é tirar a política da sombra corruptora do dinheiro. Instituir o financiamento público das campanhas eleitorais para diminuir a influência do dinheiro privado. Substituir a maior parte dos cargos comissionados por carreiras de Estado. E rever o processo orçamentário para que não sirva à negociação obscura entre os interesses poderosos.
Nada disso é utópico. Tudo serve ao mesmo objetivo: dar braços, asas e olhos à energia humana que fervilha, frustrada e dispersa, no Brasil.

ROBERTO MANGABEIRA UNGER é professor titular da Universidade Harvard (EUA), ex-ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos (2007-2009) e ex-colunista da Folha.

domingo, 15 de novembro de 2009

Advogado é advogado

O advogado estava chegando tarde à uma importante reunião no escritório e
não encontrava estacionamento. Ele para o carro na fila dupla, levanta as
mãos ao céu, fecha os olhos e diz:

- Senhor, por favor, me arruma um estacionamento e te prometo que irei à
Missa todos os domingos pelo resto da minha vida, deixo as putas, o álcool e
o jogo.... Além disso, não transarei mais com minhas colegas do escritório
nem com a minha secretária, que são casadas...

Nesse instante, milagrosamente, aparece um lugar para estacionar na porta do
edifício. O sujeito estaciona e diz:

- Não se preocupe mais, Senhor, já achei uma vaga!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Inclusão digital

 

Estudos sobre a realidade nacional, mostra que um terço da nossa população vive na pobreza absoluta e com baixo nível de escolaridade, sem acesso a educação, ao trabalho, à renda, a moradia, ao transporte e a informação. Neste quadro que se insere a exclusão digital.

Os excluídos estão as margens da sociedade em rede. é o chamado analfabetismo digital.

E estar incluído na sociedade digital é a condição básica para o desenvolvimento do cidadão. A política de digitalização da máquina do Governo, mostra que para se ter acesso aos serviços estatais devemos ter um acesso a rede e uma noção de informática pelo menos básica.

Notamos em nossos estudo que o Governo Federal tem um site de Inclusão Digital (www.inclusaodigital.gov.br). Nele mostra os vários programas de inclusão patrocinados por esse. Exemplos:

Mare - Telecentro de Pesca

Uca - Projeto Computador por aluno

Computador para todos

Centro de Inclusão Digital

Claro que o Governo faz isso apenas para estar dentro das Políticas Publicas Sociais que a lei obriga a fazer. E pela extensão territorial do Brasil esse investimento é muito pequeno.

Se continuar assim, corremos o risco de ter dois cidadãos: de um lado o que estão incluídos no mundo desenvolvido e participam dele, tem conta em banco, automóvel, cartão de credito e pertencem a sociedade supostamente desenvolvida; e de outro lado estará o conjunto daqueles que estão absolutamente marginalizados, que não tem a menor possibilidade de sobreviver em um mundo globalizado, que foram esquecidos pelo desenvolvimento.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD 2003), desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística do Ministério do Planejamento, há uma queda acentuada quando saímos da classe A para a classe B. A classe C agrupa uma população maior que as classes A e B reunidas, e a classe B possui mais que o dobro de acesso a computadores que a classe C.

Por essa pesquisa, cerca de 68% da população brasileira estão nas classes D e E e praticamente não têm acesso à Internet. Na Europa e nos Estados Unidos, 75% das casas têm computador e 67% têm acesso à internet. Não é por acaso que as escolas conectadas no Brasil estão fortemente concentradas em São Paulo. E mesmo na cidade de São Paulo, a banda larga está concentrada nos Jardins, e não está na zona leste. Portanto, mesmo em uma região rica, há também uma concentração na distribuição desses recursos em função da renda.

è preciso acrodar. Não há futuro para o mundo dos incluídos, se não tratarmos do outro lado da rua, onde esta o mundo dos excluídos. A exclusão digital significa a exclusão do conhecimento, que é pior das exclusões por que de fato retira das pessoas a possibilidade de mudar sua vida e de repensar o que passa a sua volta. Até a possibilidade de participar democraticamente. As pessoas ja tem dificuldade de participar da democracia, com menos informação isso fica mais difícil ainda.

Conclusão

A forma mais completa de combater o "Apartheid" digital é investir diretamente nas escolas publicas, assim os alunos desde cedo possam ter acesso direto as novas tecnologias digitais.

Referências:

Referencia das Estatísticas Fundação Getulio Vargas www.fgv.br/cps

Site Ciência da Informação http://revista.ibict.br

Site Portal da Inclusão Digital http://www.inclusaodigital.gov.br

Site Correio da Cidadania http://www.correiocidadania.com.br

Site Luiz Salvador http://avancosocial.blogspot.com/

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A criação da Xoxota

Mario Quintana

Sete bons homens de fino saber
Criaram a xoxota, como pode se ver:

Chegando na frente, veio um açougueiro
Com faca afiada deu talho certeiro.

Um bom marceneiro, com dedicação
Fez furo no centro com malho e formão.

Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno
Forrou com veludo o lado interno.

Um bom caçador, chegando na hora
Forrou com raposa, a parte de fora.

Em quinto chegou, sagaz pescador
Esfregando um peixe, deu-lhe o odor.

Em sexto, o bom padre da igreja daqui.
Benzeu-a dizendo: “É só pra xixi!”

Por fim o marujo, zarolho e perneta
Chupou-a, fodeu-a e chamou-a…

Buceta!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

40 anos de internet


Será que a tecnologia está redefinindo quem somos?

Faz 40 anos que os computadores de Leonard Kleinrock, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e de Douglas Engelbart, do Instituto de Pesquisas na Universidade de Stanford, foram conectados por uma "linha especial" da Arpanet, um sistema de apenas quatro computadores que faziam parte de um projeto do Departamento de Defesa dos EUA.

Com o passar dos anos, o sistema exclusivo de tráfego de informação evoluiu, saiu dos laboratórios de cientistas para o público e hoje é conhecido como internet.

Não há dúvida de que a internet está transformando o mundo, de que vivemos em meio a uma revolução. A questão, ou uma delas, é que tipo de revolução é essa: será que a internet pode ser comparada, por exemplo, ao telefone ou ao carro, ou mesmo à imprensa de tipo móvel, que revolucionou o livro? Ou será que ela pertence a outra classe de tecnologia, que não só transforma a sociedade mas que vai além, redefinindo quem somos?

A questão é complicada, difícil até de ser formulada. O telefone e o carro transformaram o modo como as pessoas se comunicavam, iam ao trabalho, viajavam, viam o mundo. Como toda tecnologia que se torna de uso público, primeiro começaram pequenos, com alcance limitado: eram poucas as linhas telefônicas e as estradas.

Aos poucos, as coisas foram crescendo e, em meados do século 20, telefones e estradas estavam pelo mundo todo. Uma diferença bem importante é que a internet, por ser acessível por computadores, é bem mais aberta aos jovens. Telefones celulares também; os jovens têm a sua privacidade, o seu espaço virtual separado do dos pais e irmãos. A comunicação é tão fácil e rápida que chega a tornar o contato direto, em carne e osso, desnecessário.

Talvez seja uma preocupação dos meus leitores mais velhos, que, como eu, nutriam as amizades no campo real e não por meio de sites como Facebook e Twitter, mas será que a internet nos fará desaprender como nos relacionar diretamente com outros seres humanos?

Deixando esse tipo de preocupação de lado, se olharmos para a história da civilização, veremos que podemos contá-la como uma história da tecnologia. À medida que novas tecnologias foram sendo desenvolvidas, do controle do fogo e da rotação de terra na agricultura até a roda, o arado e os transistores e semicondutores usados em aparelhos eletrônicos, nossa história foi, em grande parte, determinada pelas nossas máquinas. Valores e interesses mudam, e visões de mundo se transformam de acordo com nossos instrumentos.

O Homo habilis, nosso ancestral que usou ferramentas pela primeira vez, evoluiu rumo aoHomo sapiens e, agora, este se transforma no Homo conectus. Será que nossos avanços tecnológicos são, hoje, a principal mola da nossa evolução como espécie? Nesse caso, será que a tecnologia está redefinindo o que significa ser humano?

Descontando uma grande devastação biológica, como uma epidemia de proporções globais ou um cataclismo climático ou ecológico, somos donos da nossa evolução: nossa transformação como espécie ocorre muito menos devido a mutações aleatórias e ao processo de seleção natural do que, por exemplo, devido a um maior intercâmbio racial, à melhor alimentação e aos avanços da medicina, à integração de tecnologias diversas com o corpo (marca-passos, órgãos e membros artificiais) e com a mente (drogas que mudam nossas emoções, implantes nos olhos e ouvidos, chips no cérebro).

A internet talvez represente uma nova fronteira, a da integração coletiva da humanidade a um nível sem precedentes. Se não no mundo real, ao menos no virtual

de alam kenji minowa

domingo, 8 de novembro de 2009

Festa dos Quarks

Partículas que formam os prótons e nêutrons podem ser indivisíveis



Neste mês, o legendário físico teórico americano Murray Gell-Mann completa 80 anos. Entre seus grandes feitos, o mais importante foi ter proposto uma ideia que revolucionou a nossa compreensão da composição da matéria.

Em 1963, Gell-Mann propôs que, ao contrário do que se pensava na época, os prótons e nêutrons, as partículas que compõem o núcleo de todos os átomos, não eram indivisíveis, e sim formadas por partículas ainda menores. Mostrando a sua fenomenal cultura geral (da qual se orgulha muito), Gell-Mann usou uma palavra de um texto do escritor irlandês James Joyce para batizar as partículas: "quarks". O nome fictício é bem apropriado: nem mesmo Gell-Mann poderia ter imaginado o quão estranhos são os quarks.

Já na Grécia Antiga, em torno de 400 a.C., os filósofos Leucipo e Demócrito haviam sugerido que tudo o que existe no Universo é composto de partículas minúsculas e indivisíveis, que chamaram de átomos (em grego "o que não pode ser cortado".) Durante 2.400 anos, filósofos e (mais recentemente) físicos vêm procurando pelos tijolos fundamentais da matéria. Essa é a missão do reducionismo: tentar dividir entidades complexas em entidades simples e irredutíveis.

É claro que a pergunta mais imediata aqui é se existe mesmo algum limite: se cortarmos a matéria em pedaços cada vez menores, será que chegaremos mesmo até as entidades mais básicas? Essa é a crença que vem inspirando físicos por todo esse tempo. Até o final do século 19, achava-se que os átomos dos elementos químicos (do hidrogênio ao urânio e além, os integrantes da Tabela Periódica) eram indivisíveis. Essa crença foi derrubada em 1897 quando o inglês J. J. Thomson mostrou que todos os átomos continham uma partícula ainda menor, o elétron. Alguns anos depois, Ernest Rutherford mostrou que a maior parte da massa de um átomo está concentrada num volume mínimo no seu centro, o núcleo atômico.

O integrante do núcleo com carga elétrica positiva, contrabalançando a carga negativa do elétron, ficou conhecido como próton. Em 1932, James Chadwick mostrou que outra partícula integrava o núcleo, de carga elétrica nula: o nêutron. Esse era o trio de partículas que, compondo todos os átomos da Tabela Periódica, deveria bastar para explicar a estrutura da matéria, um triunfo do reducionismo. Só que a festa durou pouco.

Durante os anos 1940 e 1950, uma multidão de partículas foi encontrada, todas aparentemente elementares, isto é, indivisíveis. Essa avalanche de partículas, centenas delas, ia contra o espírito do reducionismo, e acabou gerando uma crise na comunidade.

Será que o atomismo está errado?

Quando Gell-Mann, e também George Zweig, propuseram que essas partículas eram, de forma análoga aos átomos, composta de outras menores, o alívio era palpável. Só que... esses quarks eram muito diferentes: tinham carga elétrica fracionária e não igual à do elétron e, para piorar, não podiam aparecer por si sós. Viviam trancadas, ou confinadas, dentro dos prótons, nêutrons e suas centenas de primos.

Gell-Mann, sabendo que enfrentaria resistência, sugeriu que, se seu esquema estivesse correto, novas partículas existiriam, formadas de dois tipos de quarks, o "up" e o "down".

Quando as partículas foram encontradas, as pessoas começaram a levar os quarks a sério. Prótons e nêutrons têm três quarks cada. Desde então, foram encontrados seis tipos de quarks.

A teoria não prevê nenhum outro.

Mas será esse o fim do reducionismo?

Ou os quarks são feitos de partículas ainda menores? Esse é o tipo de pergunta que, especulações à parte, só os experimentos poderão responder.

A longa caminhada do papel eletrônico

Colunista destaca principais avanços na busca do dispositivo flexível que pode revolucionar a leitura.

Um objeto semelhante a uma folha flexível, capaz de "carregar" diferentes configurações de textos e imagens? É isso o que promete o papel eletrônico, inovação que pode se tornar uma realidade muito antes do que você imagina.

Imagine-se sentado em um banco de praça, quando alguém ao seu lado retira de um fino canudo uma folha retrátil e transparente de tamanho A4. De repente, letras e imagens aparecem naquela folha, como se fosse uma página impressa. O contraste e a visibilidade das letras em diferentes ângulos lembram uma folha de papel.
Isso ainda é uma cena de ficção. Você não encontra esse produto na loja da esquina, mas Epson, Fujitsu, HP, Hitachi, IBM, Kodak, Motorola, Philips, Pioneer, Samsung, Siemens, Sony e Xerox, para citar apenas empresas conhecidas do grande público, trabalham para que isso não demore a acontecer. O papel eletrônico – a folha transparente da cena imaginária – já existe em diversos produtos. Falta apenas ele aparecer nodesign imaginado acima e com um preço compatível com a renda de boa parte da população.
Nos laboratórios de pesquisa, os trabalhos que viabilizaram o papel eletrônico já têm uma longa história. Podemos dizer que a saga remonta aos anos 1950, quando propriedades elétricas foram descobertas em alguns polímeros e as primeiras imagens xerográficas foram obtidas com o processo conhecido como eletroforese. Na década seguinte, com a descoberta dos polímeros semicondutores, estava aberta a estrada para se chegar ao papel eletrônico.
Mas a evolução da ciência e da tecnologia não é assim tão certinha. Tropeços metodológicos e estratégias comerciais entortaram o rumo dessa história. Passados mais de 40 anos, ainda estamos à espera do papel eletrônico com as propriedades que teoricamente consideramos adequadas.
E quais são essas propriedades? Para se assemelhar ao papel impresso em funcionalidade e disponibilidade, o papel eletrônico deve ter bom contraste, de modo a ser lido até na claridade da luz solar. Isso implica que as imagens deverão ser visualizadas por reflexão da luz e não por transmissão, como ocorre nas usuais telas de computadores e de televisores. É claro que isso não impede que um fabricante possa fazer um papel eletrônico que emita luz, mas essa não é a alternativa que está fazendo a cabeça da indústria.
Assim como o papel convencional, de celulose, o eletrônico também deve ser flexível, de modo que possa ser encurvado e guardado em um canudo. Tem que apresentar baixo consumo de energia e, sobretudo, ter preço de venda compatível com o orçamento de grande parte da população. Ainda não se conseguiu um produto que atenda a todas essas exigências. Vejamos alguns dos caminhos seguidos pelos pesquisadores para chegar a elas.
Tinta e suporte

Folha enrolada de Gyricon, papel eletrônico desenvolvido pelo Centro de Pesquisa da Xerox. O dispositivo foi batizado a partir da expressão grega que significa "rotação de imagem".

O papel eletrônico tem basicamente dois componentes: a tinta e o suporte flexível. A este associa-se o sistema eletrônico, capaz de imprimir e apagar texto e imagens. Cada um desses componentes é parte de uma grande área de pesquisa, agraciada com alguns prêmios Nobel pelo caminho. O principal modo de preparação da tinta eletrônica, por exemplo, utiliza a eletroforese, fenômeno cuja descoberta em 1937 valeu o Nobel de Química de 1948 ao sueco Arne Tiselius (1902-1971).
Antes de abordarmos os métodos atuais, vale a pena recordar a primeira ideia de uma tinta eletrônica. Ela foi inventada por Nicholas Sheridon em 1974, quando era pesquisador do Centro de Pesquisa da Xerox, em Palo Alto, naquela região da Califórnia conhecida como Vale do Silício. O processo foi batizado de Gyricon, palavra grega que significa “rotação de imagem”.
Essencialmente o processo funciona assim: esferas de plástico microscópicas são fabricadas com um hemisfério pintado de branco e outro de preto. Cada um deles tem uma carga elétrica diferente – digamos que o hemisfério branco seja negativo, enquanto o preto é positivo. Milhares dessas esferas são dispersas em um líquido entre duas camadas de material flexível. Uma delas é necessariamente transparente.
Se uma voltagem positiva for aplicada na camada transparente, as esferas giram e exibem o hemisfério negativo (branco). Letras e imagens são então produzidas com uma distribuição adequada de voltagens na camada transparente. O processo foi abandonado pela Xerox em dezembro de 2005, quando seus competidores avançavam na técnica de eletroforese.
No processo de eletroforese, por sua vez, existem duas alternativas. Na primeira, algumas esferas são brancas, enquanto outras são pretas. Esferas de uma cor são carregadas positivamente, e as outras, negativamente. Na segunda alternativa, apenas um tipo de esfera é disperso em um líquido colorido e que apresente um bom contraste com a cor das esferas – esferas brancas em um líquido azul, por exemplo. Em ambos os casos, a formação da imagem é similar ao processo do Gyricon: a distribuição de voltagens é que define a imagem.
No caso de esferas brancas carregadas negativamente, uma voltagem positiva na superfície visível apresenta uma imagem branca, pois as esferas são atraídas pela voltagem. No caso de uma voltagem negativa, elas são repelidas, e a imagem fica azul. Esse mecanismo é aplicado em cada ponto da imagem. Ou seja, cada pixel tem um conjunto de esferas e uma conexão ao sistema eletrônico. Vejamos um dos processos utilizados para formar cada pixel.
A tinta eletrônica do MIT

A tinta eletrônica desenvolvida no MIT se baseia no princípio da eletroforese. O dispositivo conta com milhares de micropartículas esféricas de cor preta e branca, cada tipo carregada com um sinal diferente. Em função da carga elétrica aplicada, muda a disposição das microesferas na superfície do suporte flexível. O rearranjo dessas partículas permite formar diferentes textos e imagens.

Esse método foi inventado por Joseph Jacobson e colaboradores, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), entre 1997 e 1998. Milhares de micropartículas com diâmetro em torno de 5 micrômetros, metade brancas e metade pretas, são encapsuladas numa esfera de material transparente, com diâmetro entre 30 e 300 micrômetros.
As micropartículas brancas podem ser obtidas com dióxido de titânio, e as pretas, com pigmentos inorgânicos. Cada espécie de micropartícula é carregada com um sinal diferente. Existem procedimentos químicos para evitar que haja atração entre as cargas de sinais contrários. Outra alternativa é usar um único tipo de partícula em um fluido dielétrico cuja cor contraste com a das micropartículas.
Milhares de cápsulas formando um líquido como uma tinta comum são fixadas em uma folha de polímero semicondutor. Uma vez fixada, a tinta é manipulada pelo sistema eletrônico para a formação de imagens.
Antes de descrever o sistema eletrônico, convém adiantar que este é o principal responsável pela esperada popularização do papel eletrônico. A base polimérica permite a flexibilidade do papel, e o baixo custo de produção dos circuitos integrados redundará em produtos baratos.

O sistema eletrônico
Para a fabricação de circuitos integrados baseados no silício são necessários ambientes de alto vácuo, sofisticados e caros. No caso de polímeros semicondutores, filmes finos podem ser formados a partir de soluções líquidas, por intermédio de um processo de auto-organização em pressão atmosférica – uma espécie de impressão de jato de tinta.
Embora simples, o processo não deixa de ter suas exigências em termos de precisão. Um circuito integrado é formado por milhares de transistores. Em cada um deles, existem partes ocupadas pelo elemento ativo – no caso, o polímero – e partes ocupadas por contatos elétricos passivos. Em transistores de polímeros, a distância entre alguns contatos é inferior a 5 micrômetros.

Não é fácil controlar gotas d’água que se esparramam sobre uma superfície. De forma análoga, o controle da forma como se esparramam as gotas da solução polimérica usada no papel eletrônico foi um dos desafios no seu desenvolvimento.

A deposição da solução polimérica no substrato do circuito deve ter resolução suficiente para não cobrir esses contatos. Ocorre que os processos mais simples de deposição não conseguem resolução inferior a 20 micrômetros. Isso é consequência da dificuldade de se controlar o fluxo e a tendência das gotas de polímero se esparramarem pela superfície do substrato.
Uma solução interessante para restringir o espalhamento das gotas de polímero foi inventada por Henning Sirringhaus e colaboradores no Laboratório Cavendish, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), há menos de cinco anos. Eles simplesmente colocaram um produto hidrofóbico nas regiões proibidas. Como as gotas de polímero contêm água, elas não conseguem penetrar naquelas regiões hidrofóbicas.
Em escala de laboratório o avanço é extraordinário. A empresa americana E Ink Corporation tem contribuído significativamente para isso. Já em 2003 eles apresentaram, em associação com a Philips, um pequeno painel (12,7 centímetros na diagonal), utilizando a tinta eletrônica do MIT. Dois anos depois eles apresentaram o primeiro protótipo no tamanho de uma folha A4.
Esse protótipo usa 100 vezes menos energia do que um monitor de cristal líquido convencional. A razão – válida para todos os dispositivos desse tipo – é que, uma vez formada a imagem, ela permanece na tela mesmo na ausência do campo elétrico que a formou. Por outro lado, como sua visualização se dá por reflexão da luz incidente no painel, não há necessidade de bateria para manter a exibição da imagem. Esta será utilizada apenas para acionar o sistema eletrônico nos momentos em que se desejar formar ou apagar imagens.

Uma perspectiva mais ampla
Quando se fala em papel eletrônico, geralmente vem à mente a imagem do início desta coluna. Nesse sentido, ele seria uma evolução dos atuais livros eletrônicos. No entanto, a indústria tem uma perspectiva mais ampla quando se refere a esse produto. Não devemos esquecer que papel eletrônico é qualquer coisa que seja flexível, possa exibir imagens por reflexão de luz, apresente baixo consumo de energia e, se possível, tenha grande capacidade de armazenamento.
Assim, o leque de assemelhados se abre extraordinariamente. Teremos, por exemplo, papel eletrônico em etiquetas de produtos nas prateleiras de lojas e supermercados. Os dados ali contidos poderão ser alterados por um sistema de comunicação sem fio. Teremos papel eletrônico em grandes painéis, a um custo bem inferior aos atuais.
No que se refere ao sonho de consumo de muitos leitores, voltemos à cena inicial: um canudo com 1 centímetro de diâmetro e 15 a 20 centímetros de comprimento. Lá dentro, uma folha retrátil, com milhares de livros gravados e conexão sem fio para buscar conteúdo em repositórios na internet e um sistema que permita uso de mensagens eletrônicas. Tudo isso por não mais do que 250 reais, e em futuro mais próximo do que muitos imaginam!

Fonte: Instituto Ciência Hoje - http://cienciahoje.uol.com.br

Danton - Robespierre -L'homme de la rue contre l'homme du pouvoir

Esta conversa entre Robespierre e Danton é trecho da obra cinematográfica "Danton e a Revolução" estrelada pelo ator e astro francês Gerard Depardieu (trecho abaixo do texto).

DANTON - Você isola a revolução, você a congelou! A cada dia recuamos mais.

ROBESPIERRE - O que quer que eu faça?

DANTON - Volte para a Terra, faça o que é correto.

ROBESPIERRE - Interrompo o ímpeto revolucionário e você mata a revolução.

DANTON - O povo quer comer e dormir em paz. Sem pão, não há leis, liberdade, justiça. Mande a merda os Comitês! Eu admiro você. Eu seguiria você mas não a qualquer custo.

ROBESPIERRE - Eu quero providenciar condições dignas de vida para 80% das pessoas. Isso é tudo.

DANTON (debochando e rindo) - Não faça discursos aqui!

ROBESPIERRE (indignado) - O quê?


DANTON - Não é tudo o que quer. Os homens não permanecem no poder por tanto tempo (provocando).

ROBESPIERRE (desafiando) - Você aspira ao poder?

DANTON - Eu não preciso, eu já o tenho. O único e real poder é aquele que vem do homem na rua. Eu o compreendo, ele me compreende. Nunca esqueça isso!

ROBESPIERRE - Eu não esqueço, mas não esqueça você que para torná-los felizes eu terei que parar com tudo.

DANTON (se levanta e parte para cima de Robespierre, esbravejando) - Você quer fazê-los felizes? Você não sabe nada sobre o povo! Quem pensa que é? Olhe pra você! Você não bebe, você está coberto de pó de arroz, espadas fazem você desmaiar, e dizem até que nunca tivera uma mulher!! Você fala para quem? Fazer os homens felizes!? Você nem é um homem. Eu vou te mostrar as pessoas, vamos andar um pouco pelas ruas.



sábado, 7 de novembro de 2009

A Olimpíada pode ser uma festa

Os últimos fatos no Rio de Janeiro deixam a sensação de impotência diante da capacidade de intervenção do crime organizado. Vem dos anos 1980 a ocupação das favelas do Rio pelas organizações criminosas, de início o jogo do bicho, depois o tráfico de drogas, sempre com a participação de membros das corporações policiais.

No Rio de Janeiro houve a entrega do território das favelas à soberania da criminalidade, dividindo-se a cidade em duas: a dos morros, sob a égide dos bandidos, e a da planície ao mar. Nos morros, o Comando Vermelho (CV), dos traficantes, disputa agora o poder com o Comando Azul (CA), das milícias, que cobram taxas da população.

Em minha breve passagem pelo Ministério da Justiça organizei reunião com os ministros da área social para estudo de medidas preventivas de modo conjunto, pois o problema era mais social do que policial: a conclusão foi iniciar a transformação de escolas em centros de convivência, com quadras de esporte e campeonatos, envolvendo pais e mestres, valendo-se de meios do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Seria uma complexa operação de envolvimento da população para reocupar os espaços perdidos, entregues ao Estado paralelo. Não seria fácil, mas deveria ser feito. Saí por conta da não-intervenção no Espírito Santo, uma semana depois, e o projeto foi esquecido.

Hoje a polícia do Rio tenta, sem essa visão social, entrar nos morros por via de policiamento denominado Polícia de Pacificação, mas a marca policial perdura e torna ineficiente a proposta.

Em 2007 e 2008, o Rio de Janeiro apresentou elevado número de homicídios, por volta de 35 para cada 100 mil habitantes, enquanto o Estado sede da criminalidade organizada, o Espírito Santo, ostentou o assustador número de 56 homicídios por cada 100 mil habitantes.

São Paulo, à época em que presidi comissão de Diagnóstico do Sistema Criminal (1999), tinha o número de homicídios hoje registrado pelo Rio, com muitas chacinas, que só naquele ano haviam matado 350 pessoas. Tinham surgido na periferia os justiceiros, policiais de aluguel para matança de desafetos. De 2001 até esta data o número de homicídios veio decrescendo significativamente: 11,4 em 2007, 10, 8 em 2008 e 9 no segundo trimestre deste ano.

A que se deve essa queda é a pergunta que se fazem os criminólogos, não havendo uma única resposta, mas uma soma de hipóteses. Sem dúvida, em São Paulo, resultados na descoberta de autoria e prisão dos responsáveis pelas chacinas e pelos atos de "justiçamento", com índices de mais de 80% de sucesso nas investigações policiais. Outra medida relevante são os significativos investimentos em dois importantes campos: informatização da informação e serviço de inteligência, que permitem planejamento policial e persecução penal mais eficiente. Assim, a polícia age, e não apenas reage. Dessa forma diminuíram os assaltos a bancos, as extorsões mediante sequestro e o furto de veículos, pela repressão a desmanches de automóveis.

Houve, contudo, uma redução da letalidade, mas não da violência, expressa em ameaças e ofensas, ou seja, o clima social é de agressividade, porém, contida. Medidas de cunho preventivo têm ocorrido, mas gostaria de ver em São Paulo um maior número de Centros Integrados de Cidadania, com fácil acesso à Justiça na periferia, e Plantões Sociais nas delegacias de polícia para atendimento condigno de pequenos problemas da população pobre.

Por outro lado, a entrada dos municípios, nesta defesa da vida, tem sido relevante. Nas cidades da periferia de São Paulo, a Lei Seca, com a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos bares a partir de determinada hora da noite e nos fins de semana, pois se constatou que grande parte dos homicídios ocorria dentro ou nas proximidades dos bares.

Mas nem tudo é positivo em São Paulo, pois cresceram, por conta da crise econômica, com a perda de 170 mil empregos no Estado, os roubos à mão armada, mormente em semáforos. E os latrocínios aumentaram, com a entrada de novéis agentes do roubo, que a qualquer reação da vítima atiram.

Já em Minas Gerais, o Sistema de Defesa Social, com integração dos órgãos policiais e medidas de prevenção social à criminalidade, alcança grande sucesso. Em 2008 houve significativa queda no número de homicídios: de 14,3 por 100.000 habitantes em 2007, passou a 11,1 em 2008, com decréscimo de 20%. Mesmo o latrocínio teve uma queda de mais de 20%, de 82 em 2007 a 65 por 100.000 habitantes em 2008.

Dentre as medidas, cabe destacar as operações conjuntas das polícias e o fortalecimento dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública. Deu-se a unificação de dados das polícias e do sistema prisional, com a produção de estatísticas sobre a criminalidade que são quinzenalmente objeto de avaliação com analistas. Instalou-se o Sistema Integrado de Defesa Social, com participação das polícias, do Ministério Público, do Judiciário, da Defensoria Pública, da sociedade civil e de autoridades municipais, com atuação articulada em força-tarefa.

Ressalto dois programas. O Fica Vivo!, com identificação dos pontos que ameaçam a paz, para com ações de inteligência, juntamente com a comunidade, promover especial policiamento comunitário. Paralelamente, cria-se uma proteção social com medidas para jovens em situação de risco: oficinas de esporte, cultura, envolvendo lideranças locais, membros de igrejas, comerciantes. Há sete núcleos do programa em Belo Horizonte e nove na região metropolitana. O outro programa é o da Mediação de Conflitos, para solução de desavenças nos bolsões de pobreza mediante mediação comunitária, extrajudicial.

Assim, há essas formas de combate à violência, além do efetivo controle da entrada de armas no Rio, para se obviar que a Olimpíada de 2016 seja realmente uma festa. Basta querer

Miguel Reale Junior

Acarmô?!...

Numa estradinha, o mineiro dono de um alambique, entra na traseira de uma BMW novinha em folha.
O dono da BMW sai que é uma fera em cima do mineiro, que diz:
Carma moço tudo se resorve....'
Resolve nada seu *&¨%$#!)(*+#$% !!!!'
Carma...toma uma aqui da minha fazenda...é da boa que o sinhô vai si acarmá...
O cara toma uma.
Acarmô?'
Acalmei nada!!!
Então toma mais uma...
E assim foi, depois de uma meia dúzia o mineiro:
Acarmô?
Sim, agora sim!
Intão agora nóis vamu sentá aqui i chamá a polícia pra fazê o tar di bafômetro i vê quem tá errado!

Cambio tecnológico, ideología, derecho

* Antonio Baylos

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Última actualización 06/11/2009@11:52:40 GMT+1

El papel de la libertad de expresión y de la libre información se modifica en una sociedad en la que la relación entre comunicación y poder se ha modificado radicalmente. Lo que los expertos llaman fenómenos de “autocomunicación de masas” tienen que ser también integrados en el espacio de las libertades públicas, y, por tanto, también cuando éstas resultan mediadas por la inserción del ciudadano en una organización como la empresa esencialmente restrictiva de las situaciones derivadas de la democracia.

NUEVATRIBUNA.ES - 6.11.2009
Se habla mucho de tecnología e innovación tecnológica en el cambio del modelo productivo. “La crisis económica ha puesto de manifiesto las debilidades de un modelo productivo basado en un excesivo peso de la construcción y en servicios de bajo valor añadido, que padece un histórico retraso en investigación e innovación”, dicen, con razón, documentos sindicales. La capacidad de innovar aparece de nuevo en el centro del debate de las políticas ante la crisis, como la fuente primaria de generación de productividad, diferenciación y valor para las empresas, mejora de las condiciones laborales, y de progreso y bienestar para el conjunto de la sociedad, que implica necesariamente llegar a compromisos de inversión tanto del sector público como, muy especialmente, de las empresas privadas. Con ello se pretende aumentar las posibilidades de competir en los mercados nacionales e internacionales en lugar de hacerlo con bajos salarios y desregulación de las relaciones laborales. Una perspectiva “clásica” que se reitera con ocasión de este “cambio de modelo” exigido. En efecto, el cambio de modelo económico debe incorporar - como se afirma en la convocatoria de un seminario sobre esta problemática organizado por la Fundación 1 de mayo para el 23 de noviembre en el CES - “valor añadido e innovación, investigación y respeto por el medio ambiente, así como impulsar los sectores emergentes que configuren una economía sostenible. Y la apuesta fundamental pasa por reforzar el capital humano a través de la educación, la formación y especialización de todas las personas implicadas en los procesos de generación de ciencia e innovación”. Estos debates tienen consecuencias muy relevantes en la producción ideológica que rodea al derecho y en concreto al derecho del trabajo y en la consideración de ciertos contenidos técnicos de esta materia.
El derecho se nutre de paradigmas culturales y técnicos. Es clara la “interferencia” del hecho tecnológico en la regulación normativa del trabajo y en el gobierno sindical del conflicto social. El tema puede, así planteado, sugerir una amplia reconstrucción de las relaciones entre tecnología, ideología y técnica jurídica en relación con la situación de dominación económica y social que caracteriza nuestro tiempo presente, lo que implica a su vez remitirse a las raíces culturales del tipo de regulación social que está vigente, a la crisis de ésta y a la influencia que el cambio tecnológico – los sucesivos cambios tecnológicos – puede haber desarrollado en este proceso.
Es evidente que este debate tiene un interés específico para la regulación jurídico-laboral en su conjunto, puesto que afecta a los fundamentos culturales en los que se basa la elaboración teórica y doctrinal que sustenta el núcleo explicativo del derecho del trabajo en su doble vertiente individual y colectiva. Fundamentos culturales que no se refieren necesariamente a las preconcepciones económicas o sociológicas que subyacen a la elaboración de todo el aparato conceptual sobre el que se edifica la autonomía científica de esta materia jurídica, sino de forma muy especial a la noción de técnica que se encuentra en la base de la noción de trabajo como eje en torno al cual se articula la regulación normativa de origen estatal o convencional que llamamos derecho laboral.
Pensar de otra manera el trabajo a partir del cambio tecnológico, la transformación del suelo en el que se edificaba el fordismo, la propia trascendencia de las tecnologías de información y de comunicación en su definición concreta, lleva necesariamente a proyectar este discurso sobre el núcleo central de la regulación jurídica del trabajo asalariado y sobre las “tutelas” diversificadas del mismo. Porque la instrumentalidad de la técnica y su apropiación por el trabajador se plantean de forma diferente a cómo tradicionalmente venían funcionando en la determinación del trabajo prestado en régimen de subordinación. La relevancia de esta nueva manera de expresarse el trabajo en el tiempo y lugar de la prestación, o en la profesionalidad del trabajador en la determinación cuantitativa y cualitativa del servicio prestado, resulta muy clara. Pero también es frecuente ver enlazado este punto con el más conocido de la flexibilización de las relaciones laborales, en su doble cara de “racionalización” de la organización del trabajo bajo la dirección unilateral de quien domina la introducción de las nuevas tecnologías y de “desregulación” de los elementos normativos y convencionales que fijaban las posiciones de empresario y trabajador a través de una cierta “colonización” de la esfera de la autoridad en la empresa por obra de la norma imperativa y de la autonomía contractual colectiva. Algunas formas de prestación del trabajo, como el trabajo a domicilio, resultan plenamente transformadas ante la aplicación de las tecnologías de la información y comunicación que se condensan en la expresión de teletrabajo. Es en este sentido en el que desde hace tiempo se habla de redefinir un pacto sindical sobre los saberes que altere y reconstruya estas formas nuevas de expresar la organización del trabajo y que posibilite trayectorias de negociación colectiva sobre éstas.
Naturalmente que también la dimensión colectiva y sindical de las relaciones de trabajo resultan muy afectadas por esta “deriva” de la tecnología sobre la forma de regular jurídicamente el trabajo asalariado. Aunque es común remitirse a esta “interferencia” sobre lo colectivo simplemente para señalar la difícil subsistencia de la acción sindical y del propio sujeto representativo de los trabajadores en un mundo productivo tecnológicamente revolucionario, lo cierto es que estos procesos de cambio han inducido mutaciones en las pautas y modos culturales del sindicalismo en relación con una mejor y más eficaz tutela de los derechos de los trabajadores que éste aspira a representar. Los sindicatos comienzan a percibirse como redes de comunicación. Y ello tanto en cuanto a los medios de comunicación, información y expresión sindicales – que entre nosotros ha popularizado el debate sobre el uso sindical del correo electrónico -, como en el ejercicio de las facultades de autotutela colectiva, comenzando por la huelga. Volver a pensar la eficacia de la huelga como parte integrante de su función en tanto que derecho fundamental y la importancia de la comunicación como ámbito en el que se despliega las estrategias de presión colectiva, el “entorno comunicativo” que se sitúa al lado de la alteración del proceso de producción de bienes o de servicios, son dos elementos que deben ser desarrollados.
Por lo demás, el tema de la innovación tecnológica compromete también el área de los derechos fundamentales del individuo que trabaja, es decir, los derechos de ciudadanía que no pueden ser amputados de raíz por el mero hecho de trabajar para otra persona de forma subordinada. En concreto, viejos derechos como el derecho a la intimidad personal, cobran nuevas facetas al relacionarse con elementos novedosos como la protección de los datos personales y al confrontarse con técnicas más agresivas de la propia imagen como la video vigilancia. El papel de la libertad de expresión y de la libre información se modifica en una sociedad en la que la relación entre comunicación y poder se ha modificado radicalmente. Lo que los expertos llaman fenómenos de “autocomunicación de masas” tienen que ser también integrados en el espacio de las libertades públicas, y, por tanto, también cuando éstas resultan mediadas por la inserción del ciudadano en una organización como la empresa esencialmente restrictiva de las situaciones derivadas de la democracia. En el segmento lineal que se forma a partir de la expresión de las ideas, la comunicación de las mismas en el nuevo entorno comunicativo y la calificación del ciudadano en función de su posición de subordinación social, se expresa una relación fluida que va de lo individual a lo colectivo y que tiene muchas implicaciones para ambas dimensiones regulativas. A fin de cuentas, la implicación de los derechos de ciudadanía en este asunto no viene sino a constatar la relevancia del trabajo como fuente de legitimación de gran parte del constructum político que reconoce derechos en función de una posición social subordinada con vistas a un proceso dirigido a la emancipación social y la modificación de las relaciones de poder que ello conlleva, pero incorporando al mismo las vías de cambio social que abre la relación entre la comunicación, la ideología y el poder sugerida desde un amplio proceso de innovación tecnológica.
Antonio Baylos es Catedrático de Derecho del Trabajo y la Seguridad Social de la Universidad de Castilla La Mancha

domingo, 25 de outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quando me amei de verdade

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver!!!

Charles Chaplin

A merda fluindo

Vaso sanitario

Tem dia que to assim

Saco arrastando

Salada é vida

cenoura trepando

Se beber não olhe abaixo

cb5fh0kw

Meu trabalho ta acumulando

trabalho acumulado

Nervoso

nervoso

Vem chegando o verão!

vem chegando o verao

Trabalho hoje!

ovoestralado

Por um novo humanismo na economia

CRISE CIVILIZATÓRIA

Marcus Eduardo de Oliveira *

 

Parece ser consenso que a humanidade vive uma crise civilizatória. A fome que atinge 1 bilhão de seres humanos talvez seja a prova incontestável que as coisas não andam bem em matéria de dignidade e respeito ao próximo, termos esses caros a sociedades que se encontram "desconectadas" das boas e adequadas políticas públicas sociais. Até mesmo porque, nesse sentido, uma polêmica ronda essa discussão. Dizem, alguns, que temos que produzir mais porque somos muitos. Será isso verdade? Não seria melhor mudarmos o foco: produzirmos melhor (com qualidade), e não mais (diminuir a quantidade). Temos que "distribuir" e não "concentrar".

No que toca a ignomínia da fome, temos que evitar o desperdício que beira cifras indecentes de 30% a 40% da produção de grãos e distribuir melhor os alimentos cuja produção atual é suficiente.

A produção de alimentos é suficiente

A produção mundial de alimentos dos dias de hoje dá conta suficiente das 6,7 bilhões de bocas a serem alimentadas. De acordo com a FAO (Fundo para Agricultura e Alimentação - ONU), entre 1950 e 2000, a produção mundial de grãos mais que triplicou, passando de cerca de 590 para mais de 2 trilhões de toneladas métricas ao ano. De 1950 a 1975, a produção de grãos aumentou em média 3,3% ao ano, um percentual maior do que o do crescimento populacional, de 1,9% ao ano.

No entanto, o "probleminha" da alocação/distribuição dessa produção nos lugares que mais carece de ajuda continua a não acontecer. E, assim, os que tanto precisam acabam ficando sem acesso. Menos da metade dos grãos hoje em dia é destinada à alimentação, enquanto a maior parte serve para fabricar rações animais, biocombustíveis e outros produtos industriais. Além disso, deve-se computar ainda o efeito de pragas sobre a plantação e o apodrecimento entre a colheita e o consumo. O que falta para uns, sobra para outros. É a distribuição que não é feita a contento.

Desse modo, temos que de um lado há um 1 bilhão de famintos; do outro, 1 bilhão de obesos.

E assim, outros e outros "probleminhas" que giram em torno da má distribuição de recursos e rendas vão se agravando, contribuindo, sobremaneira, para desumanizar ainda mais as relações entre nossos pares.

Em especial sobre a questão dos subnutridos, cabe ressaltar que esse mal acomete uma entre três crianças. Em números absolutos, a subnutrição e a fome crônica afetam aproximadamente 200 milhões de pessoas na Índia; mais de 200 milhões na África; 40 milhões em Bangladesh; 15 milhões no Afeganistão. O número de mortes por causas relacionadas com a fome é da ordem de nove milhões por ano. Isso resulta em uma média de 25 mil mortes por dia.

Percebe-se, com isso, que os números que perfazem a desigualdade são gritantes e inadmissíveis.

A conta disso é bastante simples: tem pouca gente ganhando muito, enquanto há muita gente que nada está ganhando. A riqueza de uns está sendo literalmente construída sobre a pobreza de milhões de pessoas.

O consumo excessivo de uns é a contrapartida da escassez de outros. Para uns sobra o que tanto falta a outros tantos. É o "desequilíbrio" que parece assim regular as atividades da economia gerando, na ponta final, mais desigualdade.

A falta de equilíbrio

Se as relações econômicas fossem, ao menos, próximas do equilíbrio, bastaria dividir a produção mundial (60 trilhões de dólares) por 6,7 bilhões de pessoas e obteríamos algo como 9 mil dólares por pessoa.

Mas, sabemos que não é bem assim que a coisa funciona. E sabemos também que a desigualdade não é natural, é imposta. E, sendo imposta, alguém está no "centro" dessas decisões dirigindo o destino de muitos que vão sendo condenados à miséria e a exploração. É a desumanização da economia que provoca a desumanização de nossos pares.

E a exploração está por todos os lados, incluindo até mesmo os que estão fora desse "deus-mercado" que é abençoado pelo "consumo excessivo", regulado pela lógica mercadológica que defende que mais e mais produtos devam ser "empurrados" para um número cada vez mais crescente de compradores. É a lógica perversa do consumo excessivo que prioriza apenas o consumidor detentor de poder aquisitivo.

Nesse pormenor, o velho e bom Marx chegou a afirmar que "é melhor ser explorado pelo capitalismo do que não ser explorado por ele". Marx sentenciava que ao não ser explorado pelo capitalismo, o trabalhador visivelmente não "existia", pois se encontrava fora do mercado de trabalho (no desemprego) na condição de nem mesmo ser "explorado pelo sistema" (excluído).

Percebemos então que a exclusão social é de tamanha ferocidade que atinge até mesmo quem dela não contribui nem para o lucro do capitalista, nem para aumentar o número de produtos disponíveis no mercado. Em nossa opinião, esse é o "excluído dentro da exclusão" que contribui, assim, grosso modo, para a total desumanização das atividades.

Cabe reiterar que os números dessa "desumanização" são alarmantes. Do lado dos óbitos são: 10 milhões de crianças mortas a cada ano por problemas com "insegurança alimentar"; 25 milhões de vítimas do HIV/AIDS até os dias de hoje; 1 bilhão e meio de pessoas sem acesso à água potável; 3 milhões de mortes ao ano na África em decorrência da malária; meio milhão de mulheres que morrem no parto por deficiências no sistema de saúde. Acrescenta-se a isso o aquecimento global que provoca o desequilíbrio do ecossistema a ponto de chegarmos a seguinte conclusão: não é o planeta Terra que está prestes a entrar em decomposição, somos nós. Não são os animais que entrarão em extinção, somos nós. Não é o habitat natural que soçobrará, somos nós.

O rumo que a economia tomou nos últimos quatrocentos anos apenas reforça essa idéia. No início, com os clássicos ministrando as primeiras lições, no centro da análise econômica estava o indivíduo. Era a ação humana - palavra cara a Escola Austríaca de Economia - o fator responsável pelos avanços.

Com o passar dos tempos e com a chegada dos marginalistas na cena econômica, a análise matemática ganhou relevância e as necessidades humanas deixaram de ser o ponto fundamental de preocupação.

O que fizeram então esses analistas econômicos da Escola Marginalista? Jogaram para escanteio o cabedal sócio-econômico que mirava as necessidades humanas e estabelecia o bem-estar como meta. Desde então, a economia se "matematizou" e, aos poucos, o social se tornou apêndice da matemática econômica.

Disso surge uma pergunta inevitável: o que tem que ser feito para resgatar o foco social e humano que um dia caracterizou a abordagem das ciências econômicas?

O resgate necessário

Precisamos praticar a Economia Solidária, a Economia Sustentável, a Humanização da Economia na qual o dinheiro não seja o ponto central. É simples? Não. Porém, não é impossível.

Para tanto, "É preciso reinventar uma economia da convivência", diz Edgar Morin. Dom Pedro Casaldáliga, nessa mesma linha, fala em "humanizar a humanidade"; enquanto o educador Marcos Arruda escreve sobre tornar "real o possível".

Mas, o que é "real" e o que significa, de fato, o "possível"? Real é desejarmos um mundo melhor para todos, sem exceção, nem discriminação. Possível é praticarmos isso mediante a cooperação e a solidariedade. No lugar da competição coloquemos a cooperação. Em lugar do individualismo, solicitemos a coletivismo, a ajuda mútua, a socialização dos benefícios.

A canção popular entoada em cantos religiosos profetiza que "Deus criou o infinito para a vida ser mais". Viver é isso. Viver é conviver. Não nascemos sozinhos, não estamos isolados, não habitamos ilhas em isolacionismo perpétuo. Vivemos em comunidade. Em comum unidade. Logo, vivenciamos o coletivo, não o individualismo.

No entanto, só vale a pena viver em um mundo onde esse mundo mereça ser vivido. Do jeito que está, com as desigualdades sociais e econômicas esparramando miséria e indecência por todos os lados, até mesmo sonhar a possibilidade de construir uma vida igualitária e digna torna-se algo espinhoso. Parte daí a necessidade de humanizar a economia, visto que a economia "estuda" o comportamento dos agentes econômicos. Assim, por essa casual definição, a economia estuda o "nosso" comportamento, porque somos, antes de qualquer outra coisa, agentes dessa transformação que se faz necessária.

É nesse sentido que desejamos promover o resgate do verdadeiro fundamento da ciência econômica e torná-la útil em nosso favor, usando a Economia como instrumento da construção do bem comum. Nesse pormenor, cabe ao economista entender o mundo e propor alternativas.

Ladislau Dowbor nos diz que "a economia é um meio que deve servir para o desenvolvimento equilibrado da humanidade, ajudando-nos, como ciência, a selecionar as soluções mais positivas, a evitar os impasses mais perigosos".

Em nosso entendimento, a economia só faz sentido de ser e torna-se útil se, e somente se, agrupar em seu intento crescimento econômico (equilibrado), equilíbrio ecológico (meio ambiente sustentável) e progresso social (justiça e equidade). Fora disso, a Economia encontra-se totalmente desconectada da realidade.

* Economista e professor universitário. Mestre pela USP em Integração da América Latina e Especialista em Política Internacional

Link: http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=42060

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Bolivarianismo esportivo

Está mais do que comprovado cientificamente que, em grandes altitudes, um atleta condicionado a jogar nessas condições leva decisiva vantagem sobre os habituados a jogar na planície. A FIFA havia proibido esse cambalacho injustificável, mas, pressionada pelos sul-americanos, voltou atrás. E a farsa populista voltou aos gramados.
Equatorianos e bolivianos dão show de bola e de preparo atlético a 3 mil metros de altitude e humilham craques argentinos, brasileiros e uruguaios, que se arrastam pelo campo, tontos e esbaforidos. As populações nativas ficam eufóricas, os governantes mais ainda, a honra e a dignidade nacional foram  salvas: pátria o muerte e bola na rede. Uma vitória sobre um “império” futebolístico como Brasil ou Argentina não tem preço no mercado populista da América Latina. Mesmo que depois, em igualdade de condições, quase sempre eles sejam goleados e colocados em seu devido lugar. Mas eles gostam de ilusões.
É a influência dos três patetas, Chávez, Morales e Correa, até no futebol. No seu habitat natural, eles vivem a ilusão de que jogam mais e melhor do que os outros, com mais fôlego, mais talento, mais patriotismo, que afirmam a sua identidade nacional. É a versão esportiva do realismo fantástico latinoamericano. Evo Morales logo vai pedir a liberação de folhas de coca para os jogadores indígenas. Afinal, é uma questão cultural.
Maradona, gênio do futebol e perfeito idiota latinoamericano da política, bateu bola em La Paz com Evo Morales e fez gol contra: assegurou que a altitude não teria nenhum efeito fisiológico nos jogadores. E a Argentina tomou de seis da Bolívia. Imaginem se tivesse? A bravata é a principal forma de expressão do idiota latinoamericano, também no futebol. E quase custou a classificação à Argentina, que em dez jogos contra a Bolívia, ao nível do mar, ganharia nove.
Mas as evidências não bastam, é preciso que a CBF trabalhe para reverter esta demagogia populista travestida de igualitarismo, escondendo uma típica malandragem latinoamericana que só pode ser entendida como bolivarianismo esportivo, seja isto lá o que for.

Nelson Motta – Sintonia Fina

Aprendizado

Na vida até então aprendi muitas coisas.
Aprendi que sorrisos não significam felicidade.
Chorar não significa tristeza.
Amigos não significam para sempre.
Que família, são aqueles que você escolhe para te fazer bem.
Que nem sempre eu aprendi com os próprios erros, mas muitas vezes com o dos outros.
Que a vida não é feita somente de alegrias, existe a dor , a solidão, a tristeza e a raiva.
Aprendi que o céu não é um lugar santo.As nuvens não são algodão doce, o mar não é apenas água e a grama não é apenas mato.
Aprendi que tudo na vida tem seu por que, e muitas vezes tentando os achar acabamos querendo descobrir mais e mais.
Aprendi que o futuro é um roteiro que escrevemos e protagonizamos.
Aprendi que podemos aproveitar o quanto for durante a nossa jornada, nos divertir, beber e rir, mas da vida só podemos ter uma dose.
Não há coisa mais simples do que o humano, apenas nós que o tornamos difícil.
Aprendi que o amor, é feito pra sentir... e não entender.
Aprendi que cada lagrima que se escorre pelo nosso rosto, faz o inimigo sorrir.
que cada angustia guardada, chega uma hora que vamos explodir.
aprendi que o medo é apenas uma palavra.
que a raiva é apenas uma ação.
Aprendi que só acredito em o que vejo com os próprios olhos.
Aprendi que mesmo não acreditando nele, acredito na fé.
e que é essa fé que me faz prosseguir.
Aprendi que as mãos não foram feitas para tocar, mas sim sentir.
que os anos são longos, mas a vida é curta.
que não importa o quanto eu tente achar uma explicação para o fim e o depois, não vou achar.
Que não importa o quanto estudamos, a inteligência verdadeira vem do ja sabemos.
vem do saber chegar até o fim da nossa jornada com sucesso.
Aprendi que há muitas tentações na vida, e que muitas vezes cedemos, mas que nenhuma dessas tentações se compara com o prazer que tenho de amar.
que muitas vezes queremos mais e mais, e esquecemos de retribuir.
muitas vezes quis uma coisa e me deram outra, mas tem aqueles que não ganham nada.
Aprendi que o mundo da voltas, as ações não.
Aprendi que tenho muita terra ainda pra terminar minha jornada.
e que enquanto essa jornada não terminar, vou continuar aprendendo.
Aprendendo que a vida não sou eu quem mando nem ela em mim, e que nunca sei o que acontecerá no meu próximo passo.
Aprendendo que a vida, é apenas uma obra de arte, que até hoje ninguém entende.
Aprendendo que o humano, é um ser de que ninguém sabe da onde veio ou como.

Da única coisa que tenho certeza é que na vida viemos para aprender e ensinar. Mesmo que seja com os nosso erros ou nossas atitudes. Tem que se arriscar para prosseguir.

Mas não arrisque sua vida, caso contrário como fará para aprender?

Karoline Zamoiski

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Pense nisso

Meu maior medo é viver sozinha e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir.
Meu maior medo é almoçar sozinha, jantar sozinha e me esforçar em me manter ocupada para não provocar compaixão dos garçons.
Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar.
Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda.
Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho.
Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento.
Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho.
Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social.
Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes.
Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinha.
Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim.
Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado.
Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo.
Meu maior medo é que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a metade do rosto que não alcanço.
Meu maior medo é escrever para não pensar.

(trecho de Pais e filhos maridos e esposas II) Fabrício Carpinejar

terça-feira, 13 de outubro de 2009

sábado, 3 de outubro de 2009

A cueca do pai

A professora pede ao Joãozinho:
- Diga três coisas de chupar!
- Picolé.
- Tá bem. Mais uma.
- Pirulito.
- Muito bom, agora diga a última!
- Cueca , professora.
- Errado! Cueca não é de chupar!
- Claro que é! Ainda ontem ouvi minha mãe dizendo para o meu pai 'Tira a cueca que eu quero chupar!'

EL GRAN CIRCO

Eu confesso: não consigo viver sem o Gran Circo Latinoamericano, sem seus palhaços e dinossauros, sem seus domadores de multidões com seus trajes típicos, sem suas bravatas retumbantes. É diversão garantida. Leio diariamente jornais de Caracas, La Paz e Buenos Aires, e não perco as “Reflexões do companheiro Fidel” no “Granma”. No picadeiro digital, o velho apresentador do circo, em vez do “respeitável público”, saúda os “compañeros revolucionários”. E passa o microfone ao seu sucessor Hugo Chávez.
Aos colegas da Unasul e ao mundo, Chávez denuncia com provas cabais um plano de dominação do Império sobre a América Latina a partir da Colômbia, como se fossem documentos secretos do Pentágono capturados pelos serviços de inteligência bolivarianos. Era só um velho estudo acadêmico, publicado na internet. Um sketch de comédia à altura de um “Zorra Total”, só que menos sofisticado.
Logo depois, Evo “Zacarias” Morales denuncia que os americanos oferecem ajuda para o combate ao narcotráfico com o único objetivo de desmoralizar as Forças Armadas da região, que não teriam competência para combatê-lo sozinhas. E, por desprezarem as nossas forças guerreiras, são desafiados, de punhos cerrados: “Que vengan los gringos!”
O público grita “Pátria o muerte”! Que filme de Cantinflas ou Chapolin, que comédia dos Trapalhões pode ser mais cômica? Pena que, pelas bravatas e trapalhadas do Gran Circo Lationamericano, sempre morra muita gente inocente.
Agora, com a entrada em cena do quase inverossímil “Mel” Zelaya e seu chapelão, o Gran Circo vive um grande momento, palhaços gritam bravatas, domadores de multidões bradam seus slogans e palavras de ordem, malabaristas da lógica e trapezistas da democracia as usam para tentar destruir a democracia e a lógica.
No picadeiro central, a luta do século: O Perfeito Idiota Latinoamericano enfrenta o Politicamente Correto Norteamericano. É um telecatch com tudo combinado e ensaiado, e no final, os adversários descobrem que são irmãos e se abraçam. E juram lutar juntos contra o capitalismo, pelo povo. A multidão delira, o circo pega fogo

 

Sintonia Fina

Nelson Motta

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Hino ao Racismo

A Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei do deputado Vicentinho (PT-SP) oficializando o “Hino à negritude”, do professor Eduardo de Oliveira. O projeto original previa sua execução obrigatória em todas as solenidades dirigidas à raça negra, mas a exigência caiu na Comissão de Educação: o que os alunos não-negros fariam em tais solenidades?

Grandes compositores como Geraldo Pereira, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Cartola, Assis Valente, Silas de Oliveira, Baden Powell, Nei Lopes, Gilberto Gil, Jorge Benjor, e até não negros como Vinicius de Morais, Chico Buarque e Caetano Veloso, já homenagearam magistralmente os afro-brasileiros e sua contribuição à nossa cultura, na língua viva do samba e de suas vertentes. Era grande a expectativa por um hino oficial à negritude. Mas quase não acreditei no que ouvi.

É uma marcha escolar-militar, banal e tradicional. Sem fazer juízo de valor, nada nela lembra nem remotamente as novas linguagens que a música negra deu ao mundo, com o samba, o jazz, o rock, o soul, o rap…

Apesar da vasta produção de nossos compositores, o deputado Vicentinho argumenta que "não temos ainda símbolos que enalteçam e registrem este sentimento de fraternidade entre as diversas etnias que compõem a base da população brasileira". Fraternidade? O hino ignora as nossas outras etnias. Como o próprio nome diz, só exalta as qualidades do homem “belo e forte na tez cor de ébano/só lutando se sente feliz/brasileiro de escol/luta de sol a sol/para o bem de nosso país”. Pardos, índios e imigrantes foram excluídos.

Ao lado de tudo que nossos grandes compositores já cantaram, com tanto talento e originalidade, exaltando os negros brasileiros, o “Hino à negritude” se parece mais com os velhos hinos “brancos” e ufanistas. E o que seria homenagem soa como uma paródia do estilo do opressor:

“Ergue a tocha no alto da glória/quem, herói, nos combates, se fez/pois que as páginas da História/são galardões aos negros de altivez”.

Os negros não precisam de cotas na música brasileira. Nem o Brasil, de racismo. Que tal tentar um “Hino ao Pobre”?

Nelson Motta
www.sintoniafina.com.br

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Dano Moral – O Valor de sua reparação

 

O dano moral advém da dor e a dor não tem preço. Sua reparação seria enriquecimento ilícito e vexatório, na opinião dos mais retrógrados.

Modernamente, verificamos que o dano moral não corresponde à dor, mas ressalta efeitos maléficos marcados pela dor, pelo sofrimento. São a apatia, a morbidez mental, que tomam conta do ofendido. Surgem o padecimento íntimo, a humilhação, a vergonha, o constrangimento de quem é ofendido em sua honra ou dignidade, o vexame e a repercussão social por um crédito negado.

Para que se amenize esse estado de melancolia, de desânimo, há de se proporcionar os meios adequados para a recuperação da vítima.

Quais são esses meios? Passeios, divertimentos, ocupações, cursos, a que CUNHA GONÇALVES chamou de “sucedâneos”, que devem ser pagos pelo ofensor ao ofendido.

Não se está pagando a dor nem se lhe atribuindo um preço e sim aplacando o sofrimento da vítima, fazendo com que ela se distraia, se ocupe e assim supere a sua crise de melancolia.

AUGUSTO ZENUN considerou impróprio o vocábulo “sucedâneo”, denominando os meios adequados para a recuperação do ofendido de “derivativos”.

Derivativo significa ocupação ou divertimento com que se procura fugir a estados melancólicos.

O derivativo não representa a dor, mas os meios para combater os males oriundos da dor (tristeza, apatia, tensão nervosa).

Condenar o ofensor por danos morais implica reparar o necessário para que se propicie os meios de retirar o ofendido do estado melancólico a que fora levado.

Questiona-se agora a dor.

A dor não é generalizada, é personalíssima, varia de pessoa a pessoa (uns sentem-na menos, outros em maior profundidade). Uns são mais fortes, outros mais suscetíveis ao sofrimento.

Há pessoas que dispensam os derivativos: são os estóicos, os de coração empedernido.

Na avaliação do dano moral, o juiz deve medir o grau de seqüela produzido, que diverge de pessoa a pessoa. A humilhação, a vergonha, as situações vexatórias, a posição social do ofendido, o cargo por ele exercido e a repercussão negativa em suas atividades devem somar-se nos laudos avaliatórios para que o juiz saiba dosar com justiça a condenação do ofensor.

Há ofensor que age com premeditação, usando de má-fé, unicamente para prejudicar, para arranhar a honra e a boa fama do ofendido. Neste caso, a condenação deve atingir somas mais altas.

Bisando CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA: “o fundamento da reparabilidade pelo dano moral está em que, a par do patrimônio em sentido técnico, o indivíduo é titular de direitos integrantes de sua personalidade, não podendo a ordem jurídica conformar-se em que sejam impunemente atingidos”.

Costumam os julgadores atentar para a repercussão do dano na vida do ofendido e para a possibilidade econômica do ofensor.

A Constituição Federal, em seu art. 5°, incisos V e X, prevê a indenização por dano moral como proteção a direitos individuais, o que já haviam feito o Código Brasileiro de Telecomunicações, a Lei de Imprensa e a Lei dos Direitos Autorais, especificamente.

IVES GANDRA MARTINS considera relevantes alguns aspectos, os quais devem ser analisados pelos julgadores: extensão do dano; situação patrimonial e imagem do lesado; situação patrimonial do ofensor; intenção do autor do dano.

Toda vez que houver ataque à honra, à dignidade, à reputação de uma pessoa, deverá estar presente a reparação pelo dano moral.

Há os que acham que a reparação pelo dano moral vem associada à reparação pelo dano material.

O que se valora é a repercussão da lesão sofrida.

Contribui para aumentar o valor da indenização o elemento intencional do autor do dano.

DANO MORAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

Código de Hamurabi, art. 127 : “se um homem livre estender um dedo contra uma sacerdotisa ou contra a esposa de um outro e não comprovou, arrastarão ele diante do Juiz e raspar-lhe-ão a metade do seu cabelo”. Aí está uma pena de reparação por dano moral.

Lei das XII Tábuas - 2 - “se alguém causa um dano premeditadamente, que o repare”.

Alcorão V - “O adúltero não poderá casar-se senão com uma adúltera”.

Na Antiga Roma: a cada ofensa moral correspondia uma reparação em dinheiro aplicada pelo Juiz. Quantia essa que desse para aliviar ou minorar o dano.

No Direito Canônico: inúmeros casos de dano moral e respectivas reparações, principalmente na promessa de casamento.

Na Bíblia: “se um homem encontrar uma donzela virgem, que não tem esposo, e tomando-a à força a desonrar, e a causa for levada a juízo, o que a desonrou dará ao pai da donzela cinqüenta ciclos de prata, tê-la-á por mulher, porque a humilhou, não poderá repudiá-la em todos os dias de sua vida”.

IHERING dizia que é ilimitada a reparação do dano moral e afirmava: “o homem tanto pode ser lesado no que é, como no que tem”.

Lesado no que é - diz respeito aos bens intangíveis, aos bens morais(nome, fama, dignidade, honradez).

Lesado no que tem - relaciona-se aos bens tangíveis, materiais.

Àquela época já se falava em reparação por dano moral e também ficava a critério do juiz.

DANO MORAL NO BRASIL

No Brasil, a reparação por dano moral vem caminhando firme com sentenças e acórdãos respeitáveis favorecendo-a.

Quando o art. 159 do Código Civil Brasileiro determina ...“fica obrigado a reparar o dano”, o faz em sentido amplo, ilimitado, irrestrito.

A reparação civil é feita através da restituição das coisas ao estado anterior e mediante a reparação pecuniária.

A ofensa por dano moral não pode ser reparada senão pecuniariamente.

O Ministro do STJ CARLOS A. MENEZES assim se manifestou: “não há falar em prova do dano moral e sim prova do fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam”.

PONTES DE MIRANDA foi fervoroso adepto da reparação por dano moral: os padecimentos morais devem participar da estimação do prejuízo. O desgaste dos nervos, a moléstia da tristeza projetam-se no físico, são danos de fundo moral e conseqüências econômicas.

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Autora: Dra. Sônia Maria Teixeira da Silva

Advogada e Consultora Jurídica do Estado do Pará e ex-Professora de Direito Civil da Universidade da Amazônia.