quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Decadencia da Vida

Era uma tarde cinzenta na cidade de Curitiba. O céu encoberto por nuvens pesadas lançava uma aura melancólica sobre as ruas vazias. O tempo arrastava-se lentamente, como se a cidade tivesse perdido o compasso da vida. Mas no meio desse marasmo, havia um oásis de luz e som, um refúgio para os perdidos e desgarrados: o Bar do Roque.


Ao adentrar o recinto, a fumaça de cigarro e o aroma de cachaça mesclavam-se em uma névoa densa que preenchia o ar. O som da sinuca sendo jogada com maestria ecoava pelos cantos do estabelecimento, enquanto os copos se chocavam em brindes efusivos. Era ali que a decadência encontrava abrigo, onde os marginalizados da sociedade buscavam conforto em doses generosas de álcool.


A tarde avançava e o sol já começava a dar seus últimos suspiros no horizonte. Depois das 17 horas, o ambiente ganhava uma aura ainda mais sombria. As pessoas, com seus semblantes cansados e olhos perdidos, se enroscavam nos balcões, buscando uma válvula de escape para suas dores e desilusões. Ali, as histórias de vida se entrelaçavam em uma teia de tragédias pessoais, sonhos despedaçados e amores malditos.


Roquel, o dono do bar, era uma figura marcante. Sua face enrugada carregava as marcas do tempo e dos excessos. Ele observava atentamente cada cliente, com seus olhos cansados e experientes, como se fosse capaz de ler suas almas atormentadas. Atrás do balcão, ele servia doses de cachaça como quem oferece uma poção mágica, capaz de adormecer temporariamente as angústias da existência.


No meio daquela atmosfera decadente, as reflexões da vida ganhavam espaço. Os clientes solitários afundavam-se em suas cadeiras, contemplando o vazio de suas existências. Pensamentos sobre os sonhos abandonados, os amores perdidos e as oportunidades desperdiçadas invadiam suas mentes. As paredes do bar pareciam repletas de histórias não contadas, de vidas desviadas de seu curso original.


Charles Bukowski, o poeta maldito, talvez se sentisse em casa ali. Suas palavras críticas e irreverentes ecoariam entre as mesas empoeiradas, encontrando ressonância nos corações atormentados dos frequentadores do Bar do Roque. O álcool e a solidão eram ingredientes perfeitos para alimentar a fogueira de suas reflexões sombrias.

Nenhum comentário: