O sol da tarde lançava longas sombras sobre a Avenida Erasto Gaertner, enquanto o tráfego fluía em um ritmo caótico, como um rio de metal e carne. No meio da multidão, eu caminhava, com o olhar perdido nas vitrines empoeiradas, um cigarro apagado entre os dedos. O cheiro de asfalto quente se misturava com o aroma de café e pão fresco das padarias, criando uma sinfonia urbana que só eu podia apreciar.
Ao meu lado, um velho mendigo com barba grisalha e olhos cansados pedia esmolas. Seus dedos sujos se estendiam como garras em direção ao meu bolso, enquanto seus olhos imploravam por um pouco de compaixão. Ignorei-o, não por crueldade, mas por pura indiferença. A vida me ensinou a ser duro, a não me importar com a dor alheia.
Mais adiante, um grupo de adolescentes tagarelava e ria alto, seus rostos iluminados pelas telas dos smartphones. O futuro, pensei, com uma mistura de esperança e ceticismo. Eles ainda acreditavam que o mundo era um lugar mágico, cheio de possibilidades. Eu, por outro lado, já havia aprendido a dura verdade: a vida era uma luta constante, uma batalha sem fim contra a mediocridade e a indiferença.
De repente, um som estrondoso cortou o ar, fazendo com que os pardais voassem em bandos desorientados. Era um Boeing 747 decolando do Aeroporto do Bacacheri, sua silhueta majestosa cruzando o céu azul como um pássaro de ferro. O rugido dos motores era como um grito de guerra, um lembrete da nossa insignificância diante da vastidão do universo.
Continuei caminhando, sem destino, apenas vagando pelas ruas como um fantasma em busca de redenção. O Parque do Bacacheri surgiu à minha frente, um oásis verde no meio da selva de concreto. Entrei no parque e me sentei em um banco sob a sombra de uma árvore frondosa.
Olhei para o céu e vi as nuvens brancas dançando ao sabor do vento. Senti a brisa fresca acariciar meu rosto e fechei os olhos, deixando que a natureza me envolvesse em seu abraço silencioso. Por um breve momento, senti paz.
Mas a paz não dura para sempre. Logo, o barulho da cidade voltou a me invadir, me lembrando da realidade cruel e implacável. Abri os olhos e vi o mundo ao meu redor: o mendigo, os adolescentes, o parque, a avenida... Tudo era parte da mesma sinfonia urbana, uma melodia dissonante e caótica que refletia a própria natureza humana.
Levantei-me e continuei caminhando, sem saber para onde ia. A única certeza que eu tinha era que a vida continuaria, com seus altos e baixos, suas alegrias e tristezas. E eu, como um observador silencioso, continuaria a vagar pelas ruas, buscando em cada esquina um significado para essa existência absurda e fascinante.
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