quarta-feira, 16 de abril de 2008

Saudades do futuro

 

No século passado, Curitiba era uma cidade que pensava na frente. Neste início de novo século, onde está a nova geração que tem por ofício a obrigação de pensar adiante do seu tempo? Faltam poucos meses para a cidade eleger prefeito e ainda não conhecemos nenhuma proposta de vanguarda para esta cidade acostumada a antecipar o futuro.
Está na História do Transporte Coletivo de Curitiba, do jornalista Raul Guilherme Urban: “Segunda-feira, 1.º de dezembro de 1980. Implantada a Rede Integrada de Transporte (RIT). Começa a vigorar o escalonamento de horários em Curitiba”.

“O prefeito Jaime Lerner inaugura simbolicamente a RIT, saindo de sua casa, na Rua Bom Jesus (Cabral), às 7h45, dirigindo-se até a esquina com a Rua Rocha Pombo, a poucos metros dali, onde embarca em um ônibus Interbairros, desembarcando no Palácio 29 de Março, sede da Prefeitura de Curitiba.”
“Lerner estabelece o escalonamento de horário para indústrias, comércio e serviços na cidade, adequando-se às medidas de economia de combustível estabelecidas pelo governo federal. A medida visa também ao funcionamento do serviço de transporte público, especialmente nos horários de pico.”
O escalonamento segue os seguintes horários de entrada, a partir daquela segunda-feira, 1.º de dezembro de 1980: -Indústria, comércio atacadista, supermercados, materiais de construção: 7 horas.

- Construção civil: 7h30.
- Rede escolar: 8h.

- Administração direta e profissionais liberais: 8h30.
- Comércio varejista e bancos: 9h (Só mais tarde o Banco Central estabeleceu o início do expediente bancário às 10 horas em todo o País).

- Funcionários públicos: 9h30. (A categoria passou a utilizar o transporte de forma escalonada, conforme o horário de ingresso nas respectivas repartições: 8.520 usuário para início às 7h; 26.823 usuários para início às 8h; 18.512 usuários para início às 9h30).
“A proposta era oferecer melhores condições de deslocamento: das 7h às 8h, transportavam-se 79.071 usuários, índice que deveria chegar a apenas 61.321 passageiros. Das 8h às 9h, a intenção era aumentar de 34.725 para 50.761 o número de usuários, equilibrando-se as horas de pico.”

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Curitiba, 16 de abril de 2008: a indústria brasileira de automóveis vai produzir neste ano acima de 3,5 milhões de unidades. Nas grandes aglomerações urbanas nascem mais automóveis do que gente e, para compensar a diferença de natalidade entre homens e máquinas, nada consegue estancar a migração do campo para as cidades.

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Curitiba tem saudades do futuro. Ou seja, aguarda ansiosamente que a nova geração de administradores públicos apresente proposta de vanguarda para esta cidade acostumada a antecipar o futuro.
Não será o metrô que irá nos salvar. Com a circulação de pessoas prejudicada pelo excesso de automóveis, uma das propostas que Curitiba aguarda é um novo escalonamento de horários para indústrias, comércio e serviços na cidade bem mais ousado do que aquele estabelecido em dezembro de 1980. Se naquele ano a cidade se adequava às medidas de economia de combustível, nos dias de hoje com a Petrobras nadando em petróleo a prioridade é ter saudades do futuro: o que vamos fazer com tantos automóveis e principalmente o que pode ser feito para garantir com conforto o direito de ir vir dos seus cidadãos?
O comércio vai funcionar do meio-dia às dez da noite? Se os supermercados funcionam 24 horas, as donas de casa serão incentivadas a sair às compras no horário noturno? Os profissionais liberais precisam trabalhar nas proximidades de seus domicílios e os funcionários públicos devem cumprir expediente apenas no período da tarde, poupando assim o ir e vir do almoço? A jornada de trabalho semanal vai ser reduzida em quatro horas, como querem as centrais sindicais?
Curitiba não tem medo do futuro. Tem saudade do futuro. E pode sair na frente, como sempre saiu. Mas onde está a nova geração que tem por ofício a obrigação de pensar adiante do seu tempo?
Dante Mendonça [16/04/2008]O Estado do Paraná.

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