terça-feira, 17 de agosto de 2010

Como dirigir em Curitiba

Pequeno manual prático para dirigir em Curitiba. Conselhos e maneiras civilizadas para não atrapalhar a vida dos motoristas que, apesar de tudo e de todos, ainda sobrevivem neste caótico trânsito. A presente cartilha tem sido sistematicamente revista e ampliada para sua segurança.

1. No sinaleiro, deixe a maldita da primeira marcha engatada e, quando abrir o sinal, não vacile, arranque! Muito provavelmente o motorista de trás não é guarda de trânsito e não tem nenhuma obrigação de avisar que o sinal está verde.

2. Até o jacaré do Parque Barigui sabe que é preciso manter a devida e defensiva distância do carro da frente. Porém, distância é uma coisa e a lacuna de mais de 100 metros que se abre à frente é coisa daquele mesmo lerdo de sempre.

3. Carro não é uma jamanta. Portanto, não é preciso ocupar a pista da esquerda antes, para virar para a direita depois.

4. Quando um outro motorista sinaliza avisando que precisa entrar na pista em que você está, não seja mau caráter, deixe o outro filho de Deus passar. Não só o mundo dá voltas. O trânsito também e, certamente, isso vai acontecer com você um dia. Quando você se deparar com um carro tentando sair de uma garagem ou estacionamento, pare e faça um gesto de gentileza, ali pode estar nascendo uma bela amizade.

5. Faixas no asfalto das vias rápidas e ruas com mais de uma pista não foram feitas para enfeitar a cidade. Quem não aprendeu o suficiente para saber onde estão as rodas do seu carro, melhor andar de bicicleta, ali as rodas são vistas de onde você está sentado.

6. Quem não sabe fazer baliza, que tenha humildade. É preferível parar num estacionamento e não atravancar a vida de quem tem mais o que fazer. Mas isso não é motivo para xingar a mãe de ninguém.

7. É preciso deixar bem claro: se a sorrateira placa do radar diz 60, é 60 de verdade, não é 20 para inglês ver. Muito menos 80. Vale o que está escrito e a sinalização não é para fazer de conta.

8. O sol nasceu para todos e a vida anda muito corrida, não está fácil. Por isso, quem gosta de passear pela Avenida Batel a 30 km por hora, que pratique esse esporte radical numa madrugada de inverno.

9. Quem avisa, amigo é. Ninguém paga imposto para dar sinal de que vai entrar em alguma rua, caso perceba que tem algum motorista esperando aquela crucial decisão.

10. Para os que deixam o amado ou a amada na frente de casa, cenas de sexo explícito podem causar engarrafamentos. Reservem os amassos de despedida para um local apropriado. Certamente, aquele beijo de cinema não vai ser o derradeiro. Beijinho, beijinho, tchau, tchau!

11. Para os que não tiram o traseiro de uma Harley Davidson, escutem um bom conselho: por que o distinto não bota a orelha naquele escatológico escapamento aberto e acelera e acelera? Freud explica e só quem é surdo não sabe: o barulho da moto é inversamente proporcional à inteligência do motoqueiro.

12. Acidente de trânsito é para ver no jornal do dia seguinte. Ou o desinformado nunca viu umalanterna quebrada? Ninguém precisa ficar olhando com cara de otário para qualquer arranhão que sempre acontece no trânsito, e seguir em frente como se estivesse num cortejo fúnebre.

13. Se o condutor tem talento para comediante, todos reconhecem o artista com a cara colada no volante. Assim não é preciso usar o cinto de segurança. Num acidente, a cara do palhaço e o painel vão virar sucata, com ou sem cinto.

14. Rua não é cabine telefônica. O celular pode ser o mais caro e bonito da praça, mas não é de parar o trânsito. Quando você notar aquela mula no volante atendendo um celular, não se irrite, a conversa vai longe. Encoste o seu carro na primeira vaga e sente-se no meio-fio para chorar de esguicho.

Dante Mendonça (O Estado do Paraná/Tribuna do Paraná)

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