quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Rabo de peixe

Era uma vez uma menina que não largava a saia da mãe, curiosa e aplicada aprendiz das lidas da cozinha. Para daqui saudar a nossa querida escritoraMaria Thereza Brito de Lacerda, retiro de seu belo livro A lida da goiabadaum dos parágrafos, como ilustração: “A menina ainda não sabia que sua vida seria feita de muitas lidas, algumas prazerosas, como a da goiabada, outras nem tanto. Não pressentia que o tempo deixaria suas marcas, leves ou profundas, como as da queimadura. Mais tarde, aprenderia que o coração precisava ser preservado do azinhavre dos sentimentos negativos. E ainda mais: mesmo que limpo, o coração deveria ser mantido constantemente aquecido pelo calor amoroso. Por enquanto, ela se deixava embalar pela alegria do trabalho e pela doçura da goiabada”.

Essa menina (que não é menina da Lapa de Maria Thereza) certo dia observava a mãe na lida de fritar um peixe. E perguntou, então, aquela pequena aprendiz de cozinheira:

— Por que a senhora, sempre que frita o peixe, corta o rabo do peixe?


— Filha, eu corto o rabo do peixe porque aprendi com a minha mãe.

Depois do almoço, a menina curiosa atravessou o quintal e foi comer sobremesa na casa da nona.

— Vovó, perguntei para mamãe e agora pergunto para a senhora: por que a senhora sempre que frita o peixe, corta o rabo do peixe?


A nona interrompeu o tricô, baixou os óculos até a ponta do nariz e respondeu:
— Eu corto o rabo do peixe porque aprendi com a minha mãe!


A menina curiosa atravessou outro quintal, pulou um canteiro de margaridas, e foi perguntar para a bisavó:

— Bisa, por que a senhora sempre que frita o peixe, corta o rabo do peixe?

A bisavó ficou surpreendida com a pergunta, porque há muitos e muitos anos já não fritava um peixe. Mesmo assim, levantou o olhar como se buscasse lá longe a lembrança, e respondeu:

— Eu cortava o rabo do peixe porque o rabo do peixe não cabia na frigideira.

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