Coexistência é uma pedreira.A Pedreira Paulo Leminski foi amordaçada. Local de inúmeros apresentações musicais em Curitiba, e que inclusive serviu de palco até para um Beatles, a pedreira foi lacrada. Motivo? O obladi-obladá incomodava os vizinhos. Só isso! O barulho do que outrora foi uma pedreira, com picaretas e explosões, incomodou os vizinhos com música e agito ocasional. Então, depois de quaseduas décadas, um cartão-postal de Curitiba foi amordaçado e o sono dos vizinhos assegurado. Dizem que o fato de ter sido obra de um governo anterior e que fazer concorrência a palcos particulares mais novos e caros, também ajudou a calar a pedreira. Porém, no despacho do doutor juiz, o que pegou foi mesmo o tal do barulho. E barulho não tem distinção. Confere?Então eu, que durmo perto do Couto Pereira e da Igreja do Perpétuo Socorro, exijo isonomia. Vamos lacrar o campo do Coxa e o altar da Santa. Afinal, geram barulho, atravancam o tráfego, sujam a rua e incomodam a vizinhança. E não me venham dizer que rock, reza e gol são barulhos diferentes. Barulho é som alto e isso se mede em decibéis. Assim, eu garanto meu sono mesmo que os coxas e os crentes,vizinhos da Pedreira Paulo Leminski, fiquem sem seus altares. Isonomia é isonomia. Assim, pela isonomia, fechamos a Baixada e a Vila Capanema, que devem incomodar por aquelas redondezas. Pesando melhor, o aeroporto também gera um baita barulho, assim como o entra-e-sai de ambulâncias no Cajuru. Lacra tudo!!! Outra coisa que incomoda muito é criança na mesa ao lado, gragalhando na fila do banco, roda de amigos na calçada do Bar do Dante, cachorro do vizinho. Aliás, na raiz da bandalheira é essa coisa de vizinho que é o problema. Tem que enquadrar esse vagabundo, seu juiz!!! Onde já se viu andar de sapato em apartamento, tem que ser lei: em casa só vale andar de pantufas!Para garantir tranquilidade, vamos meter cabo de vasouras em todos os tetos, colocar pôster daquela enfermeira com dedo na boca em todos os postes e radares eletrônicos de ruídos em todas as esquinas. Assim Curitiba, que já foi a cidade mais verde do Brasil, passa a ser a mais muda. Não sei se repararam, mas um dos indícios de vida é um batuquinho no peito e mesmo nossa primeira fala nessa terra é um berro. Amigos, meus amigos, civilização implica em barulho. E para ser civilizado hoje em dia é preciso coexistir. Abuso é abuso e deve ser resolvido mas não sem abrir a mão da coexistência. Fechar um palco de milhares porque afeta centenas, senão dezenas, é um abuso tão gritante como show do Sepultura. Baixa o volume, seu juiz! Por fim, a esses eternos incomodados que sempre encontram no vizinho uma fonte de desavenças e acham que coexistir é coisa lá pra judeu e palestino, sugiro que se mudem o quanto antes para o Cemitério Parque Iguaçu, que é um dos cantos mais verdes, limpos, organizados e silenciosa dessa nossa cidade.
Johnny Pinguela.
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