quinta-feira, 6 de março de 2008

FODA-SE

 

por Millor Fernandes

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional a quantidade de "foda-se!" que ela fala.

Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda- se!"?

O "foda-se!" aumenta minha auto- estima, me torna uma pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Me liberta.

Não quer sair comigo? Então foda-se!".

"Vai querer decidir essa merda sozinho (a) mesmo? Então foda-se!".

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso.

São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua.

Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

"Prá caralho", por exemplo.

Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Prá caralho"?

"Prá caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.

A Via-Láctea tem estrelas prá caralho, o Sol é quente prá caralho, o universo é antigo prá caralho, eu gosto de cerveja prá caralho, entende?

No gênero do "Prá caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!".

O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem.

O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto.

Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida.

Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral?

Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!".

O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicinio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.

Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um PHD "porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!".

O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior.

É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", repone" e mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...

Diante de uma notícia irritante qualquer "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo.

Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cú!"?

E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cú!".

Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:

"Chega! Vai tomar no olho do seu cú!".

Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima.

Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!"

E sua derivação mais avassaladora ainda:

"Fodeu de vez!".

Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma  situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa.

Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro  e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar:

O que voce fala?

"Fodeu de vez!".

Liberdade, igualdade, fraternidade e "foda-se!!!"

Nenhum comentário: